quarta-feira, 12 de maio de 2010

A Arte (quase) invisivel- Aderbaal Freire Filho ( O Sarrafo ediçao junho de 2003)

O Alfaiate do rei nu, eis o homem! Todos, esta bem, quase todos veem os trajes que ele nao fez. Seu oficio esta no extremo de uma fieira que tem o diretor de teatro no extremo oposto. Nem um, nem outro entraram na liesta de oficios que a reportagem especial da revista veja dedicou aos bem- sucedidos em suas carreiras. Quanto ganha e o que faz um alfaiate do rei nu, quanto ganha e o que faz um diretor de teatro? resposta da revista veja : sei la, nem queri saber, nao me interessa> Bem, e melhor ficar com biologos, publicitarios e administradores de empresas, ate porque o mercado de trabalho para alfaiates de reis nus e diretores de teatro nao e dos melhores. E, dos dois, pior ainda para os diretores e teatro, se considerarmos, claro, os bachareis que se dedicam a 'Vestir' reis nus ( ou vestir 'reis' nus; os vestir reis 'nus') .
Mas porque eles sao os extremos postos de uma fieira de oficios e profissoes? em poucas palavras: os alfaiates de reis nus nao fazem o que quase todos veem, as roupas dos reis nus, e os diretores de teatro fazem o que quase ninguem ve, a mise-en-scene de uma peça de teatro, Vou abandonar agora os alfaiates de reis nus, eles que criem seu sindicato. Vou falar duas ou tres coisas dos que conheço, os diretores de teatro, ate porque sou um dele> Xomo e isso que quase ninguem ve o que eles fazem, se alguns sao tao famosos?e quase ninguem ve, quem sao os poucos que veem e o que eles vem? E o que , afinal os diretores de teatro? Nao vou responder na ordem, nem sei se vou responder.
A julgar pelo o que dizem deles, o que elez fazem nao e dificil de saber: eles gritam ( dizem que os diretores de televisao gritam mais ). E, as vezes, eles escrevem sobre o que fazem. Bom. Como eles nao estao presentre no espetaculo, como os atores; nem estao representados no espetaculo por coisas concretas, palpaveis, dialogos, e natural que a identificaçao da sua ' Obra ' seja dificil. E Outra consequencia disso e tambem natural : os diretores ' efeirtistas ' sao mais reconhecidos, eles sao os autores dos efeitos, eles jogam para a plateia ( a patuleia, na corrupta ). Dai costumam sair os famosos, o que esta muito bem. O mal e quando isso vira padrao de qualidade e a qualidade verdadeira nao conta.
Dou um exemplo, Peter Brook, que era famoso tambem aqui, enquanto quase ninguem tinha visto seus espetaculos, acaba de chegar ao brasil. Como sua qualidade nao e feita de ' efetismos ', nos ver a qualidade verdadeira dos seus espetaculos foi, para muitos, decepcionante ( se ele voltar outras vezes vai acabar perdendo fama ). Ouvi muita gente saindo pela tangente: ah, ele agora esta optando pela simplicidade. Ora, brook e simples ha muitos anos, seu timao de atenas, de 1974 ( um senhor de 30 anos ), era de uma simplicidade roxa. Mas tanto la, como agora, suas qualidades estavam ali, escandalosas, no jogo dos atores e com os atores, na vida luminosa de um teatro vivo( valha a redundancia ), na transformaçao da palavra em açao- e ai esta o segredaço.
Chamo aquie essa transformaformaççao de revoluçao do principio e da defino como a grande revoluçao que o poeta da cena deve fazer para a construçao, no palco, da sociedade da poesia viva: o que no principio era verbo, no principio passa a ser açao. Mas isso e dificil de ser visto. A autoria do espetaculo, no final, se confunde tanto com a do ator e a dos atores mesmo os colaboradores proximos muitas vezes nao percebem. Mas e natural que seja assim. Os primeiros diretores de teatro foram proprios autores; os diretores de teatro hoje, portanto, sao sofocles vivo, Shakespeare vivo, Moliere vivo, quando nao ele mesmo- o diretor - inaugurando outra dinastia do fantasma. E assim a imortalidade dessa arte efemera. Emfim, esse papo e so um começo de conversa, nao da tempo de esmiuçar. Arrisco uma generalizaçao, deizendo que tudo o que o diretor de teatro faz, ou pode fazer , e fruto da sua consciencia da natureza da ilusao particular do teatro. Nao gritar tambem e bom.

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